VIBES: INFODEMIA
não é consumir conteúdo; é se sentir contaminado por informação o tempo todo.
infodemia, uma epidemia de informações falsas. na infodemia, compartilhamos a ilusão de que a informação nos torna imunes.
em fevereiro de 2020, a OMS alertou sobre a “infodemia maciça” que rodeava o COVID-19: uma superabundância de informações nem sempre corretas ou verdadeiras. esse movimento é mais do que um efeito colateral da pandemia; a infodemia é um dos pilares centrais da sociedade da informação em que vivemos.
você abre o whatsapp e, antes de entender do que realmente se trata a notícia, o vídeo ou o meme, você já reage e se sente comovido, irritado ou ansioso; e, claro, compartilha o seu afeto com os outros. a informação chega em nós com tanta velocidade que rompe as barreiras de defesa do nosso senso crítico.
de acordo com um estudo do Pew Research Center, cerca de metade (!) dos norte-americanos (48%) afirmam ter encontrado ao menos algumas notícias completamente mentirosas sobre a pandemia. o mesmo estudo aponta que 3 em cada 10 norte-americanos acreditam que o novo coronavírus foi criado em um laboratório.
infodemia é o sintoma de uma cultura em que não apenas consumimos conteúdo, mas sim nos sentimos contaminados por informações o tempo todo.
as redes sociais nos prometeram uma sociedade em que todos teriam acesso à informação. o que ninguém nos contou é que, para escravizar a nossa atenção, a desinformação seria imprescindível. o historiador James Gleick escreveu que “quando a informação é barata, a atenção torna-se cara”. não prevíamos que o preço seria a verdade.
como mostra o mini-doc da Nature, na pandemia as fake news se espalham mais que o coronavírus, por exemplo as imagens de corvos no centro de Wuhan falsamente atribuídas à atração por corpos nas ruas.
do ponto de vista da linguagem, a COVID-19 resgata o significado negativo do termo “viralizar” e também nos confronta com uma realidade da qual não conseguimos mais fugir através das telas.
“na época pós-fática das fake news e dos deepfakes, surge uma apatia à realidade. dessa forma, aqui é um vírus real e não um vírus de computador que causa uma comoção. a realidade volta a se fazer notar no formato de um vírus inimigo.”
— Byung-Chul Han
em um mundo pós-verdade, a realidade torna-se um conceito relativo.
mesmo frente aos acontecimentos, é possível entrar em negação. dados e hashtags são fabricadas para minimizar ou potencializar o ângulo de uma notícia. sim, a negação pode trazer conforto, mas também pode ser uma arma de destruição em massa. ou as duas coisas ao mesmo tempo.
em infodemia, o cotidiano se tornou uma guerra de assimetria de informação: quem sabe mais? quem “sabe melhor”? quem não sabe nada? quem deveria decidir o melhor para a humanidade?
em uma sociedade na qual a confiança está abalada, a reflexão parece o único paliativo. resistir à infodemia é lembrar-se constantemente que um fragmento de informação não te faz saber tudo, apenas mais um pouco.
por trás de qualquer post, pode haver a intenção de infectá-lo no lugar de informá-lo. ao receber uma informação fake, talvez seja melhor contra-argumentar os dados para não acabar em uma armadilha no lugar de um debate. afinal, quando se discute uma mentira, você está apenas tornando a mentira mais contagiosa.
como escreveu Susan Sontag em “A Doença Como Metáfora”, “o apocalipse agora virou uma novela: não é o ‘apocalipse agora’, mas o ‘apocalipse de agora em diante’. o apocalipse passou a ser um evento que está e não está acontecendo.”